Você já participou de algum clube do livro? Eu tenho participado de vários há alguns meses, o problema é que infelizmente eu nunca consigo terminar a leitura a tempo de participar da discussão, mas claro que venho trazer a minha opinião aqui para o blog e indicar as obras!

“A mulher de Gilles” é mais um desses livros e a autora belga, Madeleine Bourdouxhe, aborda o adultério, um dos grandes temas da literatura, de forma delicada e pungente, com um ponto de vista diferente do que estamos acostumados a encontrar e que, inclusive, me tirou da zona de conforto e acabou me irritando e revoltando muito.

Na Bélgica, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o operário Gilles se aproxima de Victorine, irmã de sua esposa Élisa, enquanto o tempo dela é consumido com os afazeres da casa, em cuidar das gêmeas e da gravidez já adiantada. Com um desejo que nasceu do nada, observando a boca vermelha que se entreabria para a língua umedecer os lábios, Gilles foi tomado por um grande pânico, já que aquela era a irmã de sua esposa que vira crescer. E quando se deu conta, estava possuindo aquela boquinha vermelha.

Os dois passam a se encontrar escondido, e movida pela desconfiança, Élisa tem suas suspeitas confirmadas após observar a atitude dos dois, mas assume uma posição inesperada quando percebe que o marido volta para casa mais leve e feliz após se encontrar com Victorine e começa a esperar ansiosamente os retornos de Gilles para desfrutar dos menores gestos de ternura que ele lhe oferece.  

Quando se questiona se deveria intervir nessa relação, Élisa percebe que se enfrentar Gilles ele vá embora, já que está dominado a ponto de deixá-la para viver com Victorine. Então, mesmo agora com tudo ameaçado, o vínculo da rotina do casal se mantém. Ele mora com ela, dorme com ela, se beijam quando ele chega do trabalho, ela prepara a sua comida... Ele ainda pertence a ela e é essa esperança que a ajuda a viver e lutar sozinha pensando na possibilidade de reconstruir tudo.

O que os três personagens têm em comum são os impulsos gerados pelo desejo, que nasce do nada e insiste em durar, mesmo que, no caso de Élisa, provoque solidão.

Esse é um romance dramático, escrito do ponto de vista da mulher que foi traída e que aceita a situação devido ao amor que sente por aquele homem, mas também que se apega às migalhas na esperança de ter de volta o amor dele e talvez, na minha opinião, para manter intacto aquele lar e aquela família.

A história me revoltou desde o começo da leitura por não concordar com a atitude de Élisa em aceitar a traição do marido. O tempo em que vivo é diferente do tempo da personagem, às vezes se eu estivesse no lugar dela, na época dela, eu concordasse com a escolha que ela fez de permanecer infeliz para não destruir o seu lar, mesmo que a culpa não fosse minha.

Analisando friamente a obra fica difícil julgar a posição de Élisa, mas como sou esquentadinha e revoltada demais para isso, fica impossível ser imparcial e concordar que ela está certa, já que ela poderia buscar sua própria felicidade, seja sozinha ou com outro homem. Mas aí entra aquela frase, o que não somos capazes de fazer e suportar quando amamos alguém! Só penso que o esforço deveria ser um caminho de mão dupla, e não de um só.

A MULHER DE GILLES

PÁGINAS: 168

AUTOR: MADELEINE BOURDOUXHE

EDITORA: CARAMBAIA

Os livros dos clubes dos livros estão tomando conta das últimas publicações, graças ao sebo e livraria “A degustadora de histórias”, aqui em Ribeirão Preto, que você pode ficar por dentro das novidades clicando aqui: https://www.instagram.com/adegustadoradehistorias/

Primeira obra que leio de literatura russa, “A filha do capitão” é um romance que se passa em 1773, uma narrativa contextualizada durante uma revolta camponesa ocorrida durante o Império Russo. Piotr é o único filho sobrevivente de um oficial do exército russo aposentado. Prometido pelo pai, desde muito pequeno, ao serviço militar, aos 16 anos ele é enviado a Orenburg, uma fortaleza isolada no interior do país.

Durante a viagem, o jovem acaba se perdendo em uma tempestade de neve e é resgatado por um guia misterioso. Por gratidão à ajuda, Piotr dá seu casaco de pele ao homem. Já na fortaleza e desesperançoso sobre seu futuro no lugar, o jovem cria um laço forte com Masha, a filha do capitão. Com o tempo, os dois se apaixonam e Piotr decide pedir a permissão de seu pai para se casar com a moça que recusa o pedido, já que o filho ainda é muito novo e inconsequente e precisa se dedicar à carreira militar para poder amadurecer.

A fortaleza em que está na verdade não passa de uma paliçada, e as notícias dos avanços dos rebeldes, liderados por um impostor que se faz passar pelo Czar Pedro III, ameaça a tranqüilidade do lugar. Em pouco tempo os cossacos tomam a fortaleza, tornando os militares reféns e quem se recusasse a jurar honra ao impostor era assassinado. Quando chega a vez de Piotr, que se recusa a cometer tal crime contra o Czar, sua vida é poupada quando o líder impostor descobre que aquele jovem é o mesmo que lhe dera seu casaco de peles e o salvara da nevasca.

Apesar de ter um futuro incerto e seu pescoço ainda estar nas mãos de Pugatchóv, Piotr mantém sua honestidade com o homem ao dizer que não pode servi-lo. O jovem é liberado e segue seu caminho para outra fortaleza levando o recado de que as tropas dos cossacos estão se aproximando e que a cidade deve se render. Em contrapartida, sua amada Masha fica para trás, na fortaleza tomada pelos rebeldes, e corre risco de morte se eles descobrirem que ela é a filha do capitão assassinado por eles.

A narrativa se resume às batalhas dos rebeldes contra o exército do Czar para defender o Império Russo, enquanto o jovem Piotr luta não apenas para manter intacta a honra de seu povo, mas também para viver seu amor com Masha. Em certo momento, Piotr é considerado traidor, é julgado, exilado e condenado à morte pelo exército graças ao seu contato com o usurpador. Mas Masha pede à czarina Catarina para que poupe a vida de Piotr, contando todo o ocorrido desde a invasão dos cossacos à fortaleza de seu pai.

A escrita é simples, apesar de ficar confusa com a dificuldade dos nomes dos personagens, mas a leitura acabou me cansando na maior parte da história e para mim, o final acabou sendo um tanto corrido, como se o autor quisesse finalizar logo a história depois de ter se apegado a tantos detalhes.

Apesar disso, gostei da leitura justamente pelo fato de ter saído da minha zona de conforto com meus romances clichês. E você, já leu alguma obra russa? Já conhecia essa história? Comenta aqui em baixo!

Até o próximo livro!

A FILHA DO CAPITÃO

PÁGINAS: 207

AUTOR: ALEKSANDR PÚCHKIN

EDITORA: EDITORA 34

Que livro chato! Honestamente, começar o ano com essa leitura não foi fácil. A narrativa não me fisgou e a história só começou a fluir depois de mais da metade do livro, o que me frustrou demais, já que eu tenho o costume de ler um livro de cada vez e não começo outro sem terminar o que estou lendo. Logo, demorei quase o mês inteiro para finalizar a leitura.

Lorde Peter Wimsey é um aristocrata muito curioso, assombrado pelos traumas da Primeira Guerra Mundial quando descobre um crime não fica em paz até solucioná-lo. Quando o corpo de um homem é encontrado na banheira de uma casa pelo proprietário, não se sabe de onde ele veio e muito menos quem ele é. As investigações têm início e com ela possíveis suspeitos são ouvidos, na verdade pessoas inocentes no lugar e na hora errados.

Escolhido para investigar o que aconteceu naquele banheiro mesmo não sendo um detetive por profissão, Wimsey vai muito além de buscar um culpado pelo assassinato, já que é preciso descobrir a identidade do corpo tornando o caso muito mais complicado. Em contrapartida um homem do mercado financeiro também está desaparecido, o que leva Wimsey a acreditar que os dois casos estejam entrelaçados. Aliado ao detetive Parker, eles trocarão ideias na tentativa de solucionar tudo o que está acontecendo de estranho naquela vizinhança.

A história se baseia na tentativa de descobrir de quem é o corpo na banheira, o que aconteceu com ele e quem o colocou lá, além de tentar desvendar o desaparecimento do financista.

Vi muitas resenhas de pessoas que também leram a obra falando que é uma narrativa difícil por ter sido publicada em 1923 e a escrita é diferente por causa da época. Na minha opinião não achei difícil, mas cansativa, cheia de “firula”, uma história que enrola demais para solucionar o crime no último capítulo e que não me causou nenhuma emoção ou curiosidade, apenas vontade de terminar logo para começar o próximo da lista.

Esperava mais do livro, mas nem sempre vamos gostar de tudo, e o interessante dos clubes do livro é justamente isso, nos tirar da zona de conforto e formar novas opiniões. Esse, inclusive, fez parte do Clube do Crime da “A degustadora de histórias” aqui de Ribeirão Preto.

Mas e você, já ouviu falar dessa história ou já leu o livro?

Me conta o que achou!

UM CORPO NA BANHEIRA

PÁGINAS: 239

AUTOR: DOROTHY L. SAYERS

EDITORA: HARPER COLLINS

Uma ida ao sebo, olhar uma capa e um título e ser fisgada por eles, começar a leitura, viajar no tempo. Essa é uma das magias que a leitura causa, além da viagem por lugares que, às vezes, se quer imaginamos conhecer um dia. Tem também a viagem no tempo, que transporta o leitor e instiga a sua imaginação.

Em 1791, nas profundezas de um beco escuro de Londres, Nella aguarda sua próxima cliente. Uma curandeira conhecida e respeitada no passado por muitas mulheres, assim como sua mãe foi um dia, ela agora usa o conhecimento que tem para um propósito mais obscuro, vender venenos para mulheres desesperadas e que fariam de tudo para se libertar dos homens ameaçadores em suas vidas, seja ele marido, amante, patrão.

Escondida em um pequeno espaço onde mal cabia uma mesa, atrás de uma parede com prateleiras vazias e um barril antigo, cheio de grãos de cevada podre usado como disfarce, a loja que um dia foi de sua mãe, de um cômodo único, era lotada de clientes e seus bebês e dava uma sensação de calor e segurança às mulheres que queriam tratar suas enfermidades femininas.

Após a morte de sua mãe, Nella ainda muito nova, se apaixona por Frederick, um homem que surge como um refúgio em meio ao seu luto para ajudar. Mas depois de sofrer um aborto, causado por Frederick, que usou suas ervas para lhe fazer mal e sumir no mundo, Nella descobre que a traição que sofreu foi muito maior do que beber de suas ervas como um veneno, quando a esposa de Frederick entra em sua loja pedindo que Nella fizesse algo para matar aquele homem que enganou as duas.

Assim, para curar uma dor que lhe causaram, Nella passou a ser indicada boca a boca entre as mulheres que precisavam de sua ajuda para se livrarem de seus homens. Com um código de ética pessoal, Nella passou a fabricar venenos e a guardar segredos, transformando e solidificando esse elo entre as mulheres. Mas o que Nella não esperava é que a chegada de sua próxima cliente mudaria sua vida.

Voltando para os dias atuais, a aspirante a historiadora, Caroline, está em uma viagem solitária que deveria ser a comemoração de dez anos de casamento, um presente de seus pais. Mas depois de ler uma mensagem no celular de James, dois dias antes da viagem, enviada por uma mulher que trabalhava com seu marido e ter a confirmação que estava sendo traída há meses, Caroline decide embarcar para Londres e dar um tempo de toda essa confusão.

Ela, que abriu mão do mestrado em Cambridge para se casar com o homem que amava; ela, que havia aberto mão de sua carreira para trabalhar com seus pais e cuidar das finanças da fazenda, já que esse era um emprego que lhe daria dinheiro; ela, que adiou, ano após ano, o sonho de ser mãe, porque nunca era o momento certo para a carreira tumultuada e cheia de trabalho de James.

Quando decide finalmente fazer algo diferente, indo contra o itinerário feito com James e para de ouvir a voz julgadora do marido em seus pensamentos de que não era boa o bastante, Caroline embarca em uma aventura de caça ao tesouro, vasculhando as margens lamacentas do rio Tâmisa.

Após encontrar um frasco azul sem nenhuma descrição além de um desenho que parecia um urso, Caroline vai parar na Biblioteca Britânica para descobrir mais sobre o frasco. Com a ajuda de Gaynor, que trabalha na seção de mapas antigos, Caroline passa a investigar algo que sequer imaginou encontrar quando pegou o pequeno frasco azul.

Em 1791, Eliza, de 12 anos, entra na loja de Nella com a missão de comprar ovos envenenados para dar ao seu patrão no café da manhã a mando de sua patroa. Muito nova para compreender o que se passava no esconderijo de Nella, Eliza era curiosa, inteligente e acreditava em magia, mas ainda era ingênua para carregar o peso de um assassinato em suas mãos.

Após a morte do patrão ser bem sucedida, Eliza acredita estar sendo perseguida pelo fantasma do homem, já que foi ela que serviu os ovos, quando menstrua pela primeira vez e sem conhecimento do que era aquilo, acreditava sangrar como castigo pelo crime que cometeu. Assim, ela começa a frequentar a loja de Nella na esperança de encontrar alguma poção mágica que afaste o fantasma da casa.

Mas a chegada de uma nova cliente que não deseja matar seu marido, mas a prima dele que é sua amante coloca os segredos de Nella em perigo, já que a mulher, com influência na sociedade londrina, ameaça Nella, fazendo com que ela vá contra os seus princípios de nunca matar uma mulher, e acaba entregando o tal veneno encomendado com a ajuda de Eliza.

Porém, uma reviravolta acontece, e o marido acaba tomando todo o veneno por engano, morrendo em poucos minutos durante uma festa em sua casa, nos braços da amante. Com uma morte repentina suspeita, a polícia passa a investigar quem foi o autor do crime e quem confeccionou o veneno, fazendo Nella e Eliza tomarem medidas drásticas para se protegerem e protegerem os segredos de tantas outras mulheres. 

Já Carolina, sua pesquisa com Gaynor acabou levando ao endereço original da loja de Nella, de onde saiu aquele frasco, e agora escondido por mato e prédios empresariais, fazendo Caroline descobrir os segredos guardados no livro de registros de Nella com os nomes das mulheres que compraram, das ervas utilizadas e dos homens que elas mataram.

Toda essa aventura faz Caroline pesar a vida que teve nos últimos dez anos com James, era preciso assumir que eles eram infelizes e que ela abriu mão de muitos sonhos para viver ao lado dele, um homem egoísta que nunca a apoiou em nada, que sempre a criticou e que usava de chantagem emocional para se livrar dos erros que cometeu e não queria assumir, e para manter Caroline presa ao casamento em uma atitude um tanto possessiva.

Essa viagem no tempo durante a leitura me fez analisar muitas das escolhas que fiz na minha vida e dos arrependimentos que eu carregaria hoje se há dez anos eu não tivesse escolhido a minha felicidade. Mas além disso, a leitura traz à tona a sociedade oculta que existe entre as mulheres, sobre a luta desde sempre para nos protegermos dos homens e das vidas secretas das mulheres que usavam a natureza para curar tantas coisas, mas que foram brutalmente mortas sendo acusadas de bruxaria.

Por essas e outras é que, na minha opinião, as mulheres hoje precisam parar de julgar umas às outras, mas se unirem contra tudo aquilo e daqueles que ainda hoje precisamos nos proteger. A pergunta que eu deixo é: você já parou para pensar como seria sua vida hoje se tivesse feito escolhas diferentes?

A PEQUENA LOJA DE VENENOS

PÁGINAS: 318

AUTOR: SARAH PENNER

EDITORA: HARPER COLLINS